Vocês leram isso? O que acharam da reportagem?
Hoje vou ter festa de 95 anos da minha avó, mas já planejei ir de estômago forrado para não jacar!
Beijos e ótimo finde!
FOLHA DE SÃO PAULO
CADERNO COTIDIANO
São Paulo, sexta-feira, 05 de novembro de 2010
Maioria não casaria com gordo, diz estudo
Pesquisa do Hospital do Coração mostra que homens da classe A são os que mais rejeitam união com obesa
Na avaliação de 81% dos entrevistados, o excesso de peso também interfere no sucesso profissional
Eduardo Anizelli/Folhapress
Tárcio Tapias, 49, representante comercial que pesa 130 kg e afirma ter sido preterido em uma promoção por ser obeso
CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO
Metade dos paulistanos e dos cariocas declara que não se casaria com uma pessoa obesa, revela pesquisa inédita do HCor (Hospital do Coração), que será divulgada hoje em um fórum sobre nutrição, que acontece em São Paulo.
Hoje, quase metade da população (49%) brasileira está acima do peso, segundo dados do IBGE. O excesso de peso inclui os que estão acima do peso e os obesos.
O trabalho do HCor investigou a obesidade e suas relações sociais. Foram entrevistadas 600 pessoas de 18 a 60 anos, de acordo com faixa etária, gênero, escolaridade e classe social. Do ponto de vista metodológico, a pesquisa representa as populações de São Paulo e do Rio.
Os homens são os que mais rejeitam o casamento com uma pessoa obesa (54% contra 46% das mulheres). Os de classe social A lideram a rejeição: 66% contra 44% da classe B e 51% da classe C.
Na avaliação de 81% dos entrevistados, o excesso de peso também interfere no sucesso profissional.
Para o nutrólogo Daniel Magnoni, coordenador científico do estudo, os números mostram o grau de preconceito que os obesos ainda sofrem em várias situações, como nas relações amorosas e na vida profissional.
Um estudo da Catho, uma das maiores empresas de recrutamento profissional do país, não deixa dúvida sobre isso. A obesidade é a terceira causa de objeção do empregador na hora da contratação de um executivo -só perde para a inconstância nos cargos e para o tabagismo.
Em determinadas circunstâncias, o preconceito pode ser escorado em motivos médicos, avalia Magnoni. Obesos têm maior propensão a doenças, como diabetes e hipertensão, e isso é uma grande preocupação para as empresas, porque faz aumentar os períodos de licença, o índice de faltas ao trabalho e as despesas com tratamentos médicos. "Não existe obeso saudável", afirma o médico.
O assunto é polêmico. Vários grupos lutam hoje para garantir o direito de a pessoa ser gorda e ser respeitada nesta condição.
Para a endocrinologista Rosana Radominski, presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade), se a pessoa está com excesso de gordura, mas não tem nenhuma complicação de saúde, tem o direito de continuar gorda, mesmo que fuja do padrão.
"Mas quando a obesidade acarreta doenças, gera custos aos sistemas de saúde e à própria saúde da pessoa, aí é preciso uma intervenção, com dieta, exercícios ou, se necessário, medicamentos."
SAÚDE
Para alguns especialistas, porém, o preconceito contra os obesos é tão nocivo quanto os problemas de saúde que a obesidade acarreta.
Segundo Rosana Radominski, ao diminuir de 5% a 10% o seu peso, a pessoa já reduz muito os riscos de complicações. "Mas isso não é suficiente para se sentir melhor psicologicamente ou deixar de enfrentar preconceitos."
Para o professor Peter Muenning, da Universidade de Columbia (EUA), o preconceito pode realmente deixar os gordinhos ainda mais doentes. "É uma situação altamente estressante. E o estresse aumenta a pressão sanguínea. Em obesos, esse problema é ainda mais grave, já que eles estão mais propensos a terem hipertensão."
Na opinião da Radominski, as mulheres sofrem ainda mais preconceito do que os homens. "A pressão é enorme. Não é à toa que temos tantos casos de anorexia."
"Mas quando a obesidade acarreta doenças, gera custos aos sistemas de saúde e à própria saúde da pessoa, aí é preciso uma intervenção, com dieta, exercícios ou, se necessário, medicamentos" ROSANA RADOMINSKI, presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade)
"Discriminação foi do bailinho ao emprego"
DE SÃO PAULO
Na infância, ele era sempre o último a ser chamado nas "peladas" com os amigos. Na adolescência, era deixado de lado nos bailinhos e só conseguia dançar música lenta se alguma amiga o convidava.
Na juventude, teve dificuldades para conseguir namorada e também sofreu discriminação no ambiente de trabalho.
Hoje, aos 49 anos, o representante comercial Tárcio Tapias, 130 kg distribuídos em 1,80 m, diz que aprendeu a lidar com o fato de ser gordo e com o preconceito que ainda enfrenta no dia a dia.
"Sempre fui gordo. Sei que nunca serei magro. Já sofri muito por isso, mas hoje não mais. Sou feliz assim. Faço caminhadas e tento não pegar pesado na comida", afirma ele, casado "com uma magra" e pai de dois filhos.
Ele lembra de quando trabalhava em um banco e deixou de ser promovido para o cargo de auxiliar de gerente, mesmo tendo mais conhecimento e habilidades do que o colega que conseguiu a vaga.
"Meu chefe disse que precisava de uma pessoa com aparência melhor."
Tapias já chegou a pesar 145 kg e, após o uso de banda gástrica (dispositivo colocado na parte superior do estômago e que reduz até um décimo sua capacidade), conseguiu sua melhor marca: 100 kg.